20 de novembro: Dia da Consciência Negra. A equipe do Inclusão Social entrevistou Carlos Augusto dos Santos, coordenador do coletivo de artistas afrodescendentes ´Novembro Negro´. O coletivo promove, até o próximo dia 30, a 5ª Mostra Pluriartística ´Novembro Negro´, com o tema ´Educação, Cultura e Arte como forma de Inclusão Social´. O evento acontece no auditório Lourival Baptista (Rua de Laranjeiras). Confira!
Por Elaine Mesoli
Estudante de Jornalismo/UFS
e voluntária da ISocial
Estudante de Jornalismo/UFS
e voluntária da ISocial
CARLOS AUGUSTO - Eu fazia muitas mostras e saraus poéticos somente com meus trabalhos. Então senti a necessidade de criar um grupo, para ampliar o acesso. Conversando com alguns amigos como João Santos Cruz, que na época era diretor da Galeria Álvaro Santos, passei a proposta e ele achou interessante. Daí surgiu, em 2005, o `Novembro Negro´. Outras pessoas, que moram em periferia, também são artistas, e não têm a possibilidade de mostrar seus trabalhos. Há muitos capoeiristas, artistas plásticos, dançarinos, fotógrafos e essas pessoas não têm como dar visibilidade. A proposta é mostrar o que é produzido na periferia por artistas negros e não-negros.
IS - Esse é um movimento nacional, já que existe em outros Estados?
CA - A nomenclatura ´Novembro Negro´ é por termos como referencial Zumbi dos Palmares. Então, esses Estados utilizam isso, não como grupo, mas como ideal, enquanto que nós somos um grupo registrado, um movimento pluriartístico. Mas se fizer uma busca na internet vão ser encontrados diversos sites com Novembro Negro no nome apenas por ser relacionado ao negro, ao Dia da Consciência Negra e à Zumbi dos Palmares.
Foto: Google |
CA - Porque é o dia da morte do líder negro Zumbi dos Palmares. Neste dia ele foi covardemente assassinado. Então, nós comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra, que estamos lutando para que se torne feriado em Sergipe, assim como já é na Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. E perceba que temos mais da metade de nossa população de afro-descendentes.
IS - Quais serão as atividades feitas no Dia da Consciência Negra?
CA - Nos concentraremos às 7h30 na Praça da Bandeira e de lá seguiremos até a Fausto Cardoso, onde teremos algumas atrações que chamamos de didático-pedagógicas, contando com a participação de nove escolas estaduais.
CA - Nossas reuniões são feitas todas as sextas-feiras na igreja Nossa Senhora de Lourdes, na Praça Dom José Thomaz; o padre nos cedeu esse espaço. Ainda estamos brigando para obter um endereço para a sede.
IS - Vocês são a favor das cotas para as Universidades?
CA - Em nosso grupo há pessoas que são contra e outras a favor. Eu, particularmente, sou a favor. Não porque assim mostramos uma inferioridade intelectual, mas para reparação do que nos foi tirado no passado. Antes, e ainda hoje, o negro tem de fazer algo 10 vezes melhor do que o branco. Por que para mostrarmos que somos iguais temos de fazer 10 vezes melhor? Basta que mostremos o que a gente pode fazer. Isso castrou muito a evolução dos nossos ancestrais e impediu que eles galgassem espaços. Sou a favor apenas por reparação de danos causados no passado.
IS - Ainda sobre o Dia da Consciência Negra, quais atividades estão sendo feitas?
Imagem: www.brasilcultura.com.br |
IS - E qual o motivo da escolha do tema esse ano?
CA - `Educação Cultura e Arte como forma de Inclusão Social´ porque tudo relacionado à educação envolve cultura e envolve arte. Aqueles que não têm acesso precisam desses requisitos para se sentir incluídos social e culturalmente; independente de ser negro ou branco. Em nosso grupo há pessoas de várias etnias. A pessoa pode não gostar de ser chamada de negra. A cor da pele está na consciência de cada um.
IS - De que forma a inclusão social deveria ser feita?
CA - O primeiro passo é dar uma educação de qualidade. Que todos negros, brancos, deficientes possam realmente ter acesso à escola.
Foto: Google |
IS - Se você diz que existe o acesso, porque você diz que muitos estão de fora?
CA - Não adianta ter o acesso se não existe educação de qualidade. Não adianta ter um monte de escola aberta, se os professores não estão comprometidos. Há professores em sala de aula que não estão preocupados em informar/educar.
IS - Então não é uma questão de falta de acesso. Seria falta de conscientização dos que estão lá para educar?
CA - E incluir as pessoas que estão fora do processo, porque algumas escolas estão em estado deplorável, algumas outras estão sendo fechadas. A inclusão social começa possibilitando o acesso à educação, somente assim teremos cidadãos livres.
* Contatos com ´Novembro Negro´: (79) 8843-9041.